A incidência solar é uma das variáveis mais importantes a serem consideradas em projetos de arquitetura pois impactam uma série de decisões que vão desde a orientação da edificação no terreno à especificação das esquadrias. Nesse sentido, o estudo adequado não apenas da incidência, mas também da trajetória do sol é fundamental para promover o conforto lumínico nos ambientes internos de um edifício.
.jpg?1615834807 "Casa Atlântica / AR Arquitetos. Imagem: © Federico Cairoli")
O conforto lumínico não se trata necessariamente de garantir a maior entrada de luz possível nos espaços internos, mas sim o seu melhor aproveitamento, o que pode significar ora trazê-la para os interiores, ora bloqueá-la. Todas as decisões, portanto, devem ser baseadas nas necessidades de cada espaço e no contexto em que estão inseridos.
Assim, as estratégias para promover o conforto lumínico nos espaços internos são bastante variadas, podendo incluir a presença de grandes aberturas, pátios internos, sheds e aberturas para iluminação zenital. Há ainda os casos em que o conforto lumínico pode ser garantido a partir da previsão de elementos para controlar e bloquear parcialmente a incidência solar, como brises, muxarabis, cobogós, pergolados, entre outros.
.jpg?1615834807)
Na reforma da Casa Atlântica, por exemplo, o escritório AR Arquitetos buscou rearticular o espaço central da residência a partir da implementação de um pé-direito duplo, em que o maciço quadrado disposto sobre o vazio é rodeado por uma abertura para entrada de luz zenital. A iluminação natural banha os interiores com uma luz suave e homogênea, mas também mutante. Dessa forma, segundo a equipe de projeto, ”o ambiente pode assumir uma tonalidade azulada em dias de sol, acinzentada em dias de chuva, alaranjados no fim da tarde, numa mutação constante que revela as sutilezas do espectro luminoso e suas intensidades sobre a ausência de cor”.
Já na Residência NB, de Jacobsen Arquitetura, a estratégia utilizada para garantir um maior conforto lumínico nos espaços internos foi o prolongamento dos beirais e varandas, de forma a proteger os espaços do pavimento superior. O pavimento térreo, por outro lado, foi concebido como um espaço aberto e integrado, em que a entrada opera como uma transição entre interior e exterior, enfatizada pela incidência da luz natural através de um pergolado com estrutura em madeira.
Uma outra estratégia que pode ser utilizada para promover o conforto lumínico é a criação de vazios com pés-direitos altos para uma melhor distribuição da iluminação natural. Essa tática pode ser encontrada no projeto da Residência KS, do escritório Arquitetos Associados, em que o desejo dos clientes por privacidade, além do estudo das condicionantes locais orientaram a criação de um grande vazio interno de três pavimentos. Além do vazio, a paginação dos tijolos nas fachadas permite aberturas para iluminação e ventilação natural dos espaços internos.
Também voltado para o interior, o projeto da Casa s/d nº01, do escritório Vão, foi pensado como um percurso introspectivo marcado pela alternância entre espaços abertos e fechados. Jogos de luz natural e reflexos que se alteram com a variação do horário e da época do ano são algumas das características marcantes deste projeto, como pode ser observado no pátio interno coberto por uma pérgola contínua com elementos vazados pré-fabricados.
A Casa GGL, por sua vez, projeto do Studio AG Arquitetura, é caracterizada pelo jogo entre cheios e vazios possibilitados por rasgos de iluminação que destacam a influência da luz natural ao longo do dia nos ambientes. O uso de janelas camarão ripadas na área dos quartos possibilita uma filtragem da luz solar, enquanto o telhado inclinado foi projetado para uso do solário.
Uma estratégia utilizada na Casa FVB para uma maior integração com a área externa - e consequente distribuição da iluminação natural e ventilação cruzada em todos os ambientes - foi a distribuição do programa em três blocos alternados. O projeto de Claudia Haguiara Arquitetura utiliza ainda painéis móveis de treliças de madeira na cor vermelha como forma de regular a incidência solar nos espaços internos conforme às necessidades variáveis dos usuários.
As citações no texto foram retiradas dos memoriais enviados pelos autores de cada projeto.
Este artigo é parte do Tópico do ArchDaily: Interiores e bem estar. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos mensais. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.
